Os preços em Luanda subiram quase 40% nos últimos 12 meses, até Setembro, renovando máximos históricos e furando a nova previsão do Governo angolano para todo o ano de 2016 no Orçamento do Estado revisto.
A informação consta do relatório mensal do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o comportamento da inflação, que destaca que a inflação estava em Setembro de 2016, face ao mês anterior, 2,14% mais alta.
Neste relatório do Índice de Preços no Consumidor (IPC), Luanda apresentava em Setembro uma inflação acumulada, a um ano, de 39,4%. Este registo fica assim acima dos 38,1% de Agosto e dos 38,5% (para todo o ano) que o Governo inscreveu na revisão do Orçamento Geral do Estado de 2016, aprovada precisamente em Setembro último e justificada com a diminuição das receitas fiscais com a exportação de petróleo.
O IPC de Luanda registou aumentos, no espaço de um mês, entre Agosto e Setembro, nas classes “Lazer, Recreação e Cultura”, com 5,16%, “Bens e Serviços”, com 3,99%, no “Vestuário e Calçado”, com 3,73%, e na “Saúde”, com 3,09%.
Desde praticamente Setembro de 2014 que a inflação em Luanda não pára de aumentar, acompanhando o agravamento da crise económica, financeira e cambial decorrente da quebra na cotação internacional do barril de petróleo bruto, o que fez disparar o custo nomeadamente dos alimentos, levando algumas superfícies a racionar vendas.
Luanda é considerada em estudos internacionais como uma das capitais mais caras do mundo.
Já o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) – o INE não divulga dados agregados para um ano para todo o país – registou uma variação de 2,14% entre Agosto e Setembro.
Em todo o país, as subidas no último mês foram lideradas pelas províncias do Cuando Cubango (2,88%), Lunda Norte (2,86%) e Zaire (2,80%), enquanto na posição oposta figuraram as províncias de Benguela (2,03%), Cuanza Norte (2,04%) e de Huambo (2,07%).
Inflação em alta, economia em queda
Os dados da inflação permitem, entre outras conclusões, dizer que a economia angolana, tal como está delineada pelo regime, está moribunda. E pelo tempo em que está de pedra e cal nos dois dígitos, é admissível que já esteja mesmo em coma.
Este patamar dos 40% já não se enquadra na simples inflação e toca na hiperinflação, designação que habitualmente é considerada quando entre na fasquia dos 50%.
Como consequência, a hiperinflação resulta em extremismos de toda a ordem. Como recentemente recordava Rui Verde, “uma situação de inflação galopante desestrutura uma economia e um país. Foi a hiperinflação alemã que levou Hitler ao poder, como foi também a hiperinflação a responsável pela década perdida de 1980 na economia brasileira”.
No contexto angolano, à inflação junta-se um crescimento (se é que disso se pode falar) económico anémico, pontual e casuístico.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em forte baixa a previsão de crescimento de Angola e espera agora uma estagnação durante este ano e uma expansão de 1,5% em 2017. Segue a linha de outros analistas, caso da Fitch que espera que a economia cresça zero em 2016.
Segundo as projecções dos economistas do FMI, Angola deverá, em 2021, registar um nível de crescimento de sensivelmente um terço face à média entre 1998 e 2007. Para este ano, o World Economic Outlook aponta uma estagnação, prevendo 1,5% em 2017.
Segundo as projecções dos economistas do FMI, Angola deverá, em 2021, registar um nível de crescimento de sensivelmente um terço face à média entre 1998 e 2007, anos em que cresceu 10,3% ao ano, em média.
A actualização das previsões de crescimento surge menos de um mês depois de a Economist Intelligence Unit (EIU) ter revisto também em baixa as previsões de crescimento da economia de Angola para este ano, antecipando uma expansão de apenas 0,6%, cerca de metade da estimativa oficial do Governo.
“Assim, parece que Angola se encontra numa situação de estagflação. Este termo designa uma situação de inflação, a que se junta a estagnação. É das piores situações em que uma economia se pode encontrar, porque exige medidas contraditórias”, considera Rui Verde, acrescentando que “o combate à inflação exige a redução do dinheiro em circulação e o aumento das taxas de juro; o combate à estagnação exige o aumento do dinheiro em circulação e a diminuição das taxas de juro”.
Este economista explica de forma lapidar o que se passa; “Imagine-se um doente a morrer que está simultaneamente com a tensão arterial elevada e com uma hemorragia. Para baixar a tensão temos de usar um medicamento que facilita a circulação do sangue, tornando-o mais fino; mas para parar a hemorragia temos de usar outro remédio que torne o sangue mais grosso e parado. Tratar uma doença implica piorar a outra.”
Não é líquido que Eduardo dos Santos, Titular do Poder Executivo, saiba exactamente o que isto é. Por norma, os seus “especialistas” dizem o que ele quer ouvir, sabendo que o Presidente prefere ser assassinado pelo elogio falso do que salvo pela verdade.
E, pelos vistos, era essa verdade – na totalidade ou em parte – que o FMI apresentou no seu diagnóstico. Mas como o Presidente é alérgico a qualquer verdade que não seja fabricada pelos seus acólitos, optou correr com os mensageiros sem sequer cuidar de saber o que dizia a mensagem. E até às eleições será assim. Depois se verá se ainda existe país.
Até lá, continuemos a olhar para o meteórico crescimento da inflação. Ao mesmo tempo vamos assistir à quebra assinalável dos já parcos rendimentos dos angolanos, sendo que o regime acredita que com alguma habilidade o povo acabará por aprender a viver sem… comer.
Folha 8 com Lusa